Os verdadeiros fãs do voleibol nacional conhecem Castêlo da Maia pelo sucesso da sua equipa. Mas Aquiles Araújo Barros - fundador do Castelo da Maia Ginásio Clube, em 1973 - há anos que virou as atenções para outro jogo: a Castelbel.
Aquiles nasceu há 62 anos. O pai, advogado, era muito amigo de Aquiles Brito, fundador da empresa Ach Brito, produtora de sabonetes. Por isso, quando Aquiles nasceu ficou decidido que a carreira do petiz não seria na área das leis nem dos magistrados - ao contrário de todos os irmãos, juízes e advogados - mas virada para a engenharia química.
Aquiles seguiria os passos do padrinho, Aquiles Brito, na empresa. "Assim que eu nasci puseram-me logo na testa o rótulo 'engenheiro químico'. Eu ia ser o engenheiro da Ach. Brito e, portanto, toda a minha vida, quando tirei o curso de Engenharia, já sabia qual ia ser o meu futuro." Aquiles Barros acabou o curso em 1973 e entrou para a Ach. Brito, onde esteve apenas pouco mais de um ano para depois se tornar assistente na Faculdade de Engenharia do Porto, onde dá aulas até hoje. Em 1990, a Ach. Brito passava dificuldades: depois da morte do fundador, um grupo de economistas analisou a situação da empresa e chegou à conclusão que a Ach. Brito devia fechar. Na altura, Delfim, um dos filhos de Aquiles Brito ligou ao afilhado do pai e pediu-lhe ajuda.
"Depois do veredicto frio dos economistas, vi que a conclusão não era de todo realista. A Ach. Brito tinha um património gigante, marcas muito conhecidas e um valor que eles não sabiam apreciar. O que se passava com a Ach. Brito? Estava a perder dinheiro naquela altura mas não conseguia satisfazer as encomendas", explica Aquiles Barros. Voltou para a empresa e definiu que os vendedores não entravam mais na fábrica: era esse o "calcanhar de Aquiles" da empresa.
"Ao contrário do que acontecia com as empresas que iam à falência porque não conseguiam produzir, a Ach. Brito corria toda a gente, tinha vendedores que entravam pela fábrica dentro e eram eles que mandavam." Aquiles passou a coordenar a produção e a empresa entrou nos eixos. Um mês depois, a Ach. Brito duplicava a produção.
Um dia, Aquiles atendeu um telefonema de um inglês que tinha experimentado um creme de barbear lavanda da Ach. Brito em Newark, nos Estados Unidos e queria começar a produzir e a vender sabonetes na América. "Era um advogado judeu de uma família muito rica, e queria fazer uma empresa de cosmética. Apareceu-me aí, de blue jeans, e imediatamente tivemos uma empatia, começámos a dar-nos bem um com o outro, ele quando viu a fachada da Ach. Brito, com mais de cem anos, disse: "isto é que vende nos EUA". Com o americano, a Ach. Brito adaptou os rótulos, repensou a imagem e começou a desenvolver novas linhas de produtos. Em 1999, depois da saída de Delfim da empresa, Aquiles abandonou a empresa e criou a Castelbel para o cliente americano.
"A Castelbel fabrica os sabonetes mas criou linhas. O design é bom, temos sabonetes, papéis perfumados para forrar gavetas, pauzinhos, homespray, velas. Acabámos por ter linhas muito maiores do que qualquer empresa portuguesa. E tudo feito em Portugal. Acho que representamos o nosso país. Se houvesse muitas empresas portuguesas como a nossa, acho que o país estava bem.", diz Aquiles.
A Castelbel (o nome junta a terra, Castêlo, com a palavra 'beleza') arrancou em 1999 com uma faturação de 350 mil euros euros e um só cliente mas a necessidade de crescer era urgente. Três anos depois, a empresa estava a vender para a Perfumes & Cia, Boss Home e Inditex (Zara Home), o maior cliente individual atual. Dois anos depois, a faturação tinha subido para os 700 mil euros e a empresa começou a ter lucro.
"Sou um bocado fazedor, aos 19 anos jogava vólei no CDUP e depois fiz um clube na minha terra, sou sócio número um. Passado trinta e tal anos saí e entretanto fiz a Castelbel, que também é outro bichinho. Pronto, gosto de fazer coisas, dá-me muito prazer.", assegura.
A empresa ganhou nome nos Estados Unidos e, em 2005, Aquiles Barros foi contactado por uma empresa inglesa que queria começar a produzir sabonetes em Portugal. "Numa hora vendi a Castelbel. Fiquei com 20%, não recebi um tostão, e ele começou a pagar ao meu sócio que estava na falência." O mercado inglês abrandou e Aquiles acreditava que Portugal era uma oportunidade. Com Luís Pereira - fundador da marca Antiga Barbearia de Bairro - o fundador da Castelbel faturou 300 mil euros em Portugal, em apenas três ou quatro meses. "No ano seguinte, passámos para o dobro e, neste momento, Portugal é o número um."
A empresa faturou 3,5 milhões de euros em 2011, abriu loja em São Paulo, Brasil - através de um representante no país, que fez questão de dar o nome da marca à loja - e a entrada na Rússia está iminente.
"Estamos a tentar abrir horizontes. Em Angola, no Dubai, temos apostado na internacionalização. Estamos a lançar linhas novas de cremes de corpo, gel de banho, desenvolvemos sabão de barba. Isto ´é uma brincadeira, mas uma brincadeira muito trabalhosa, de maneira que eu conto dedicar-me até ao fim do ano 100% à Castelbel", conclui Aquiles Barros, cuja empresa dá trabalho direto a 55 pessoas, todas da zona de Castêlo da Maia. Conheça aqui a página da Castelbel no Facebook.
(in Dinheiro Vivo - 13/10/2012)
Aquiles nasceu há 62 anos. O pai, advogado, era muito amigo de Aquiles Brito, fundador da empresa Ach Brito, produtora de sabonetes. Por isso, quando Aquiles nasceu ficou decidido que a carreira do petiz não seria na área das leis nem dos magistrados - ao contrário de todos os irmãos, juízes e advogados - mas virada para a engenharia química.
Aquiles seguiria os passos do padrinho, Aquiles Brito, na empresa. "Assim que eu nasci puseram-me logo na testa o rótulo 'engenheiro químico'. Eu ia ser o engenheiro da Ach. Brito e, portanto, toda a minha vida, quando tirei o curso de Engenharia, já sabia qual ia ser o meu futuro." Aquiles Barros acabou o curso em 1973 e entrou para a Ach. Brito, onde esteve apenas pouco mais de um ano para depois se tornar assistente na Faculdade de Engenharia do Porto, onde dá aulas até hoje. Em 1990, a Ach. Brito passava dificuldades: depois da morte do fundador, um grupo de economistas analisou a situação da empresa e chegou à conclusão que a Ach. Brito devia fechar. Na altura, Delfim, um dos filhos de Aquiles Brito ligou ao afilhado do pai e pediu-lhe ajuda.
"Depois do veredicto frio dos economistas, vi que a conclusão não era de todo realista. A Ach. Brito tinha um património gigante, marcas muito conhecidas e um valor que eles não sabiam apreciar. O que se passava com a Ach. Brito? Estava a perder dinheiro naquela altura mas não conseguia satisfazer as encomendas", explica Aquiles Barros. Voltou para a empresa e definiu que os vendedores não entravam mais na fábrica: era esse o "calcanhar de Aquiles" da empresa.
"Ao contrário do que acontecia com as empresas que iam à falência porque não conseguiam produzir, a Ach. Brito corria toda a gente, tinha vendedores que entravam pela fábrica dentro e eram eles que mandavam." Aquiles passou a coordenar a produção e a empresa entrou nos eixos. Um mês depois, a Ach. Brito duplicava a produção.
Um dia, Aquiles atendeu um telefonema de um inglês que tinha experimentado um creme de barbear lavanda da Ach. Brito em Newark, nos Estados Unidos e queria começar a produzir e a vender sabonetes na América. "Era um advogado judeu de uma família muito rica, e queria fazer uma empresa de cosmética. Apareceu-me aí, de blue jeans, e imediatamente tivemos uma empatia, começámos a dar-nos bem um com o outro, ele quando viu a fachada da Ach. Brito, com mais de cem anos, disse: "isto é que vende nos EUA". Com o americano, a Ach. Brito adaptou os rótulos, repensou a imagem e começou a desenvolver novas linhas de produtos. Em 1999, depois da saída de Delfim da empresa, Aquiles abandonou a empresa e criou a Castelbel para o cliente americano.
"A Castelbel fabrica os sabonetes mas criou linhas. O design é bom, temos sabonetes, papéis perfumados para forrar gavetas, pauzinhos, homespray, velas. Acabámos por ter linhas muito maiores do que qualquer empresa portuguesa. E tudo feito em Portugal. Acho que representamos o nosso país. Se houvesse muitas empresas portuguesas como a nossa, acho que o país estava bem.", diz Aquiles.
A Castelbel (o nome junta a terra, Castêlo, com a palavra 'beleza') arrancou em 1999 com uma faturação de 350 mil euros euros e um só cliente mas a necessidade de crescer era urgente. Três anos depois, a empresa estava a vender para a Perfumes & Cia, Boss Home e Inditex (Zara Home), o maior cliente individual atual. Dois anos depois, a faturação tinha subido para os 700 mil euros e a empresa começou a ter lucro.
"Sou um bocado fazedor, aos 19 anos jogava vólei no CDUP e depois fiz um clube na minha terra, sou sócio número um. Passado trinta e tal anos saí e entretanto fiz a Castelbel, que também é outro bichinho. Pronto, gosto de fazer coisas, dá-me muito prazer.", assegura.
A empresa ganhou nome nos Estados Unidos e, em 2005, Aquiles Barros foi contactado por uma empresa inglesa que queria começar a produzir sabonetes em Portugal. "Numa hora vendi a Castelbel. Fiquei com 20%, não recebi um tostão, e ele começou a pagar ao meu sócio que estava na falência." O mercado inglês abrandou e Aquiles acreditava que Portugal era uma oportunidade. Com Luís Pereira - fundador da marca Antiga Barbearia de Bairro - o fundador da Castelbel faturou 300 mil euros em Portugal, em apenas três ou quatro meses. "No ano seguinte, passámos para o dobro e, neste momento, Portugal é o número um."
A empresa faturou 3,5 milhões de euros em 2011, abriu loja em São Paulo, Brasil - através de um representante no país, que fez questão de dar o nome da marca à loja - e a entrada na Rússia está iminente.
"Estamos a tentar abrir horizontes. Em Angola, no Dubai, temos apostado na internacionalização. Estamos a lançar linhas novas de cremes de corpo, gel de banho, desenvolvemos sabão de barba. Isto ´é uma brincadeira, mas uma brincadeira muito trabalhosa, de maneira que eu conto dedicar-me até ao fim do ano 100% à Castelbel", conclui Aquiles Barros, cuja empresa dá trabalho direto a 55 pessoas, todas da zona de Castêlo da Maia. Conheça aqui a página da Castelbel no Facebook.
(in Dinheiro Vivo - 13/10/2012)